Porque é que nunca houve mulheres artistas que conseguissem chegar a ser grandes artistas?

Aqui está uma excelente pergunta, porque confesso nunca me ter perguntado sobre isto. Segundo Linda Nochlin, as mulheres artistas são mais introvertidas, mais delicadas e mais pronunciadamente expressivas na forma como fazem arte, e chega a comparar ambos os sexos em distintas e variadas formas de estar na sociedade, como por exemplo na profissão.

«Um homem que tenha a necessidade de envolvimento feminino com bebés ou crianças, ganha o estatuto de Pediatra ou Pedopsicólogo, com uma enfermeira (uma mulher) para fazer o trabalho rotineiro; aqueles que se sentem estimulados pela culinária criativa podem vir a ganhar fama de Chef de cozinha; e claro, os homens que se sentirem preenchidos pelo que é habitualmente denominado de “interesses artísticos femininos” podem vir a ser chamados de pintores ou escultores, em vez de serem assistentes de Museu voluntários, ou ceramistas em tempo parcial, tal como as suas homólogas femininas acabam; tanto quanto a sua habilitação profissional permite, quantos homens estariam dispostos a trocar a sua profissão de professores ou researchers por trabalhos “não-remunerados”, assistentes ou dactilógrafos de researchers em tempo parcial ou amas a tempo inteiro e por trabalhadores domésticos.» (NOCHLIN, Linda; 1988)

É certo que ainda hoje existam muitas diferenças entre os dois sexos no que diz respeito à profissão. Isto pode-se, desde logo, constatar na diferença salarial entre uns e outros com os mesmos cargos profissionais. Mas no sistema actual da arte vejo que, progressivamente, tem vindo a passar-se o contrário. Tem vindo a haver um crescendo índice de mulheres a ocupar cargos directivos de museus que o contrário, por exemplo. Há mais mulheres na programação, gestão, produção e comunicação, e outros cargos que eu, por lapso, possa não estar a incluir aqui, cujos não exigem um elevado grau de criatividade comparando-se com a actividade de um artista plástico ou de um curador, por exemplo. Acho que isto acontece porque as mulheres destacam-se por terem maior capacidade empreendedora que os homens. Isto é apenas uma constatação que faço, ao ver que num período de crise, como o foi no segundo semestre do ano 2009, as empresas que eram dirigidas por mulheres, conseguiram, antecipadamente, aperceber-se do que deviam fazer, efectivamente, para não cair na falência. Penso que essa será uma característica que se revela hoje como um forte argumento contra os homens.

Contudo e embora a questão porque é que nunca houve mulheres artistas que conseguissem chegar a ser grandes artistas? seja uma questão bastante pertinente de se colocar, sinto que, hoje, não há lugar para se falar de novos grandes artistas, porque para ser realista, quando terá sido a última vez que se falou num Grande Artista, num Génio?

Hoje isso só acontece nos filmes! Se considerar um grande artista como sendo aquele que vende imagens, posso facilmente recordar-me que Madona, por exemplo, e sendo ela mulher, foi, e continua a ser, uma sábia vendedora da sua própria imagem, ou melhor, os marketeers e todo o sistema souberam bem o que fazer para a tornar numa estrela pop. Quanto á música… bem isso é melhor nem dar a minha opinião. Será ela uma grande artista como tantas vezes se pode constatar nos órgãos de comunicação social? E já agora, são os órgãos de comunicação social que define o que é e o que não é um grande artista? Pelo menos é deles que se servem os artistas pop, porque sem maneira de divulgarem a sua imagem não poderiam jamais ter existido. O mesmo aconteceu com Andy Wharol, que fez da sua vida um estrelato mediático, um chamariz para os órgãos de comunicação. Os órgãos de comunicação adoravam-no, e as suas obras precisavam disso. As declarações do artista à imprensa faziam sempre parte da estratégia de Wharol e enfatizavam a condição pop das suas obras.

Contudo só pelo simples facto de se classificar ou até mesmo categorizar um artista, independentemente de ser homem ou mulher, está-se a fazer uma distinção. Essa distinção terá que ter a ver com o gosto pessoal, e quanto a isso nada a fazer ou a contestar, mas se for pronunciada pela crítica, é uma distinção que coloca o artista na condição da sua produção ser mais facilmente aceite pela sociedade, e em sequência mais possibilidades de este “reinar” no mercado das suas obras. Tomo como exemplo Damien Hirst, por muitos denominado como o “Pai da Arte Britânica”, tornou-se no artista mais caro de sempre nos leilões. Vendeu a sua escultura “Anatomy of an Angel” no leilão da galeria londrina Sotheby’s por uns descomunais 1.226.181€, concluindo uma excelente ronda de vendas com uns sensacionalistas 126.717.600 milhões de euros. E é isto que faz de Damien Hirst um grande artista? Não, porque por esta ordem de ideias em Portugal temos duas artistas, Paula Rego e Joana Vasconcelos, que também vendem abundantemente a sua produção e até mais que outros artistas homens portugueses, e não são consideradas grandes artistas. Por isso excluindo das hipóteses que o comércio da obra possa ser um dos factores que estipula socialmente o que é ou não é um grande artista, sobra debruçar-me sobre a origem do “Grande Artista” na história da arte.

Segundo a noção histórica da autora, a origem do “Grande Artista” vem daquele que é genial no que faz, e ser genial é ter embutido na sua alma uma força atemporal e misteriosa que lhe concebe, perante a sociedade, a designação de Grande Artista.

«Os poderes sobrenaturais do artista como imitador, o seu forte controlo, possivelmente poderes perigosos, funcionaram historicamente para o destacar dos outros como um Deus criador, o que cria alguma coisa a partir do nada.» (NOCHLIN, Linda; 1988)

E de onde vem essa capacidade única de os artistas saberem traduzir a realidade de forma tão fiel que a representação parece tão real quanto a realidade que representaram? Se eram “poderes” exclui-se a hipótese que esses artistas tenham sido ensinados a ter “poderes”. Auto-didactas? Também não me parece. Segundo a autora, era uma capacidade inata. Já fazia parte do indivíduo esse condão que o faria, não muito mais tarde, ser um Grande Artista. A verdadeira condição de “filho de peixe sabe nadar”, poderá estar na origem disto. Mas e porque é que essa capacidade inata nunca aconteceu a uma mulher? Será, na minha perspectiva, porque as mulheres, não tinham privilégios na religião e eram interditas a informações de cariz intelectual, e filosofias que pudessem vir a pô-las numa condição libertadora e originar a revolta feminina contra o sistema? A mulher, para a religião, será sempre a culpada de todos os males e por isso a sua condenação será a tempo indeterminado a submissão à vontade do homem. Não tendo elas a oportunidade de serem vistas de outra forma pela religião, limitaram-se a ter que cumprir com o que Deus lhes condenara?

E foi esta a principal luta dos movimentos feministas que surgiram em Inglaterra e Estados Unidos da América nos séculos XIX e finais do século XX. Estes pretendiam equilibrar a desequilibrada balança dos direitos sociais e políticos. Esta luta reflectia-se também na sua arte. Contudo, e segundo a autora, estas feministas erraram quando lhes foi pedido o seu conceito de arte. A perspectiva das feministas sobre arte era uma perspectiva pobre em conceito e muito naif. Para elas a arte era o veículo de expressão dos seus sentimentos de revolta e que pretendiam transmiti-los para a sociedade. Assim, a estratégia ficou entorpecida e absorveu-se. A nível social foram conseguidas grandes conquistas, como o seu direito ao voto, crescimento das oportunidades de trabalho e salários mais próximos aos dos homens, embora que muito longe ainda de oportunidades e promoções que se possam equiparar, direito ao divórcio, e o controlo sobre o próprio corpo na saúde, e agora em alguns países desenvolvidos, o direito ao aborto. Contudo, em 1949, a declaração de Simone de Beauvoir em O segundo sexo, defende que a hierarquia entre os sexos não é uma fatalidade biológica mas sim uma construção social. E isto vem estreitar ainda mais o conceito de que a mulher pode ausentar-se de tudo aquilo para o qual lutou e preocupar-se unicamente com a sua aptidão de formar e cuidar da família? Será sempre esta a concepção que delimita o que deve uma mulher fazer?



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11 comments

  1. Marina Abramovic, Laurie Anderson, Frida Kahlo, Louise Bourgeois, Judy Chicago, Lygia Clark, Sonia Delaunay, Tamara de Lempicka, Natalia Goncharova, Barbara Hepworth, Hannah Hoch, Lee Krasner, Agnes Martin, Louise Nevelson, Georgia O’Keeffe, Meret Oppenheim, Germaine Richier, Cindy Sherman….

  2. Helena Vieira da Silva, Paula Rego, Josefa de Obidos, Angelica Kauffmann e Mary Moser (fundadoras da Royal Academy of Arts) Lee Bontecou, Louise Bourgeois, Romaine Brooks, Leonora Carrington, Mary Cassatt, Elizabeth Catlett, Camille Claudel, Sonia Delaunay, Dulah Marie Evans, Helen Frankenthaler, Elisabeth Frink, Fran…

  3. Esta pergunta só faz sentido num contexto claro da história num modo geral. É claro que o último século o reconhecimento da mulher tem vindo a aparecer mais (e ainda bem). Não podemos esquecer que de há cem anos para traz a masculinidade teve sempre o poder. Ainda bem que temos agora grande nomes para fazer parte da historia da arte como a Cindy Sherman, ou a Louise Bourgeois. Só um aparte duvido que Frida Kahlo seja considerada artista no seu grande esplendor, pois é um caso de popularidade enganadora.

  4. Não deixa de me divertir que qualquer pessoa, formada ou não no assunto, pense sempre que pode escrever sobre arte. Desconhecendo o autor/a desta publicação, terei que me dirigir a ele/a de forma abstracta. Espero que não se ofenda, quando lhe digo que o que aqui escreve tem tanto de superficial como de desinformado. Naturalmente fala de um assunto que desconhece, ou do qual tem no máximo um conhecimento ligeiro, mencionando justificações que apesar de em parte serem verdadeiras são também incompletas. O título que aqui apresenta sob a forma de uma pergunta, além de insultuoso, chega a ser anedótico.
    Não tenho paciência para estar aqui, num espaço que não me pertence, a elaborar sobre a questão central do que escrevem e sobre as restantes, mas para além dos vários livros disponíveis sobre mulheres artistas que pode encontrar se assim desejar, acredite que conhecer alguns nomes dos que aqui lhe deixo, lhe podem abrir horizontes.

    Herrad of Landsberg (séc XII)
    Diemud (séc XII)
    Hildegard von Bingen (séc XII)
    Sabina von Steinbach (séc. XIII)
    Borgot Le Noir (séc XIV)
    Caterina dei Vigri (séc XV)
    Maria Ormani (séc XV)
    Lucia Anguissola (séc XV)
    Sofonisba Anguissola (séc XV)
    Properzia de Rossi (séc XV/XVI)
    Plautilla Nelli (séc XVI)
    Levina Teerline (séc XVI)
    Marietta Robusti (séc XVI)
    Lavinia Fontana (séc XVI/XVII)
    Fede Galizia (séc XVI/XVII)
    Clara Peeters (séc XVI/XVII)
    Diana Scultori Ghisi (séc XVI/XVII)
    Caterina van Hemessen (séc XVI)
    Barbara Longhi (séc XVI/XVII)
    Artemesia Gentileschi (séc XVI/XVII)
    Josefa de Ayala (séc XVII) – E até é portuguesa… E até é GRANDE…
    Mary Beale (séc XVII)
    Plautilla Bricci (séc XVII)
    Orsola Caccia (séc XVII)
    Elizabeth Chéron (séc XVII)
    Lucrina Fetti (séx XVII)
    Anne Killigrew (séc XVII)
    Geertruydt Roghman (séc XVII)
    Judith Leyester (séc XVII)
    Louise Moillon (séc XVII)
    Elisabetta Sirani (séc XVII)
    Gesina ter Borch (séc XVII)
    Susan Penelope Rosse (séc XVII)
    Maria Siylla Merian (séc XVII/XVIII)
    Giovanna Fratellini (séc XVII/XVIII)
    Teresa del Po (séc XVII/XVIII)
    Luísa Roldan (séc XVII/XVIII)
    Ana Ruysch (séc XVII/XVIII)
    Françoise Duparc (séc XVIII)
    Ulrica Pasch (séc XVIII)
    Diana Beauclerk (séc XVIII/XIX)
    Marie-Guillemine Benoist (XVIII/XIX)
    Rosalba Carriera (XVIII/XIX)
    MARIA Cosway (XVIII/XIX)
    Rose Adelaide Ducreux (XVIII/XIX)
    Marie Anne Fragonard (XVIII/XIX)
    Marguerit Gérard (XVIII/XIX)
    Marie-Eleonore Godefroid (XVIII/XIX)
    Angelica Kauffman (XVIII/XIX)
    Élisabeth-Louise Vigée-Lebrun (XVIII/XIX)
    Adelaide Labille-Guiard (XVIII/XIX)
    Marie Victoire Lemoine (XVIII/XIX)
    Constance Mayer (XVIII/XIX)
    Adèle Romany (XVIII/XIX)
    Anne Vallayer-Costa (XVIII/XIX)
    Marie-Denise Villers (XVIII/XIX)
    Maria Bashkirtseff (séc XIX)
    Anna Bilinska (séc XIX)
    Berth Morisot (séc XIX)
    Rosa Bonheur (séc XIX)
    Camille Flers (séc XIX)
    Eva Gonzales (séc XIX)
    Mary Nimmo Moran (séc. XIX)
    Julia Margaret Cameron (séc XIX)
    Mary Cassatt (séc XIX/XX)
    Camille Claudel (séc XIX/XX)
    Louise Abbema (séc XIX/XX)
    Sophie Anderson (séc XIX/XX)
    Cecilia Beaux (séc XIX/XX)
    Marie Bracquemond (séc XIX/XX)
    Minerva Chapman (séc XIX/XX)
    Edith Corbet (séc XIX/XX)
    Susan Eakins (séc XIX/XX)
    Annie Swynnerton (séc XIX/XX)
    Elizabeth Forbes (séc XIX/XX)
    Eleanor Fortescue-Brickdale (séc XIX/XX)
    Bessie Gutmann (séc XIX/XX)
    Anna Klumpke (séc XIX/XX)
    Elizabeth Nourse (séc XIX/XX)
    Lilla Cabot Perry (séc XIX/XX)
    Suzanne Valadon (séc XIX/XX)

    Se estas mulheres não forem para si grandes artistas… azar o seu.
    Poupo-me a estender a lista a grandes mulheres artistas nascidas no século XX, porque essas são tantas, mas tantas que é imperdoável não conhecer pelo menos umas dezenas delas.
    Escrevam artigos com seriedade. As questões aqui levantadas já não fazem sentido há décadas…Comprem livros. INFORMEM-SE. Se é para escreverem coisas básicas, fiquem quietos.


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